city-scape

domingo, fevereiro 26, 2006

 
BARCELONA por Miguel Marcelino

Quando volto de Barcelona a Lisboa sempre me perguntam se já visitei muitas coisas ou se já vi todas as obras de Gaudi. Tenho respondido sempre que não porque nos dois dias semanais que me sobram gosto de descansar, estar com amigos e passear pelas ruas junto a minha casa, na cidade velha.
Aparte da primeira viagem a esta cidade, em que visitei quase todos os monumentos "obrigatórios", enquanto morador praticamente tenho apenas vivido a cidade. E realmente não me sinto com a mínima vontade de depois de cinco dias de trabalho ir visitar os tão aclamados edifícios pomposos de Gaudi, cheios de turistas a fotografar os enfeites do arquitecto, qual bolo de chantili. Há uns anos, ainda inseguro do meu conhecimento e capacidade crítica limitava-me a esforçar por me obrigar a gostar dessas obras. Mas agora tenho a certeza que é uma arquitectura que não me afecta pois o seu interesse esgota-se, tal como numa montanha-russa de um parque temático, na primeira visita. Sinto que todo o artifício e fantasia em criar o seu "mundo" é demasiado caprichoso e não corresponde ao tipo de poética que realmente me toca e faz revisitar lugares vezes e vezes. Quando penso em Barcelona enquanto foco de arquitectura, vem-me sempre à mente dois exemplos claros e destacados. A "plaça del rey" no bairro "gótico" é um sitio para mim de paragem obrigatória todos os fins-de-semana nos meus passeios pedonais. Está carregada de uma naturalidade, equilíbrio e harmonia desarmantes; a aparente intencionalidade de todos os edifícios que a compõem faz deste sitio um lugar verdadeiramente especial e das minhas preferidas praças. É um conjunto de edifícios que embora não aspirem a nenhuma coerência enquanto praça, como um logradouro, respiram todos em harmonia cada um com suas pequenas excepções contribuindo para um todo equilibrado, unificados pela presença única e tão forte da pedra – remetendo-os para uma espécie de caos em harmonia. A sua aparente desordem assenta numa ordem tão elevada e superior cuja estética me parece muito similar à das "Bodas" de Igor Stravinsky, na minha opinião uma das mais geniais peças musicais de todos os tempos. Muitas vezes sinto uma ligação entre algumas obras musicais a obras de arquitectura e estes dois exemplos penso que estão claramente interligados; o meu entendimento das duas enquanto pessoa formada em arquitectura e em música permite-me percebê-los como obras que partilham do mesmo tipo de conceito de estética. Não têm qualquer tipo de "receita", e por mais tempo que passe a analisar toda a praça ou a ouvir os preciosos 23 minutos das "Bodas", não consigo descodificar o que é que concretamente as tornam tão especiais. O certo é que mesmo com o meu sentido crítico em máxima exigência, não lhes consigo imputar erro algum ou pormenor que alteraria, todo o seu todo é irrepreensível.
O outro exemplo é a Igreja de Santa Maria del Mar no bairro "el born". É também daqueles exemplos fenomenais. Por fora, em qualquer ruela, parece que a igreja foi desenhada e construída ao mesmo tempo que as ruas circundantes de maneira a proporcionar a melhor perspectiva. As suas torres estão sempre no lugar certo, é sempre bela, de dia, de noite, com chuva, com sol, no Verão ou no Inverno. É uma obra superior. Sempre que posso vou à missa nesta igreja pois as suas qualidades orgulham e dignificam-me enquanto crente. Vejo a beleza desta obra como a beleza da nudez, em que temos apenas o essencial nas mais belas proporções e acerto sem qualquer elemento supérfluo; a presença da pedra é muito forte, não há nada a mais; a estrutura define o espaço e cria a atmosfera. O resultado é tão bem sucedido quanto a síntese de uso de elementos de arquitectura; com apenas estrutura, pedra e espaço temos uma das mais belas igrejas. Simples e directa, sem caprichos. Transpira inteligência.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

 
MILANO por Teresa Ferreira

Andar anónimo na rua, em passo rápido, cruzando pessoas de todos os tipos e raças, identificando cheiros, 'buongiorno grazie' e pegar no jornal do metro, entrar no tunel, ver a luz outra vez, chegar ao destino, procurar nervosamente moedas, enfiar na máquina, capuccino con cioccolato...

Sair do destino, escolher entre um happy-hour, um restaurante étnico económico, uma sessão num ciclo de cinema, um espectáculo, um passeio no centro ou uma ida ao supermercato mais próximo, se o frigo estiver vazio...

Sentir ainda adrenalina viciante de descobrir diariamente coisas novas, um pormenor de cidade, uma coisa que se come, uma pessoa, um lugar de que se gosta e que se quer levar consigo para sempre.

Assistir com prazer a uma convivência de aparentes opostos: restos romanos e arquitectura moderna, edificios liberty, arranha-céus, lojas fashion de roupa e design, as galerias Vittorio Emanuelle, a nova feira do Fuksas, o Castelo Sforzesco, o salão do móvel, o mercado de antiguidades nos Navigli, a Galeria Armani do Tadao Ando, a ultima ceia do Leonardo, o Pirelli, o Duomo, a Biccoca do Gregotti e a ópera no Scala....

Aproveitar tudo aquilo que uma grande cidade não periférica pode oferecer, por uns tempos...

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