city-scape

sábado, janeiro 28, 2006

 
PARIS por Paulo Moreira

Gosto de visitar uma cidade várias vezes e começar a ter coisas preferidas para fazer. Integro-me facilmente num novo ambiente, faço a vida que os outros fazem, posso ser turista mas também posso não ser. Fico hospedado em casa de amigos no limite da periferia, numa rua repleta de edifícios inacabados em tijolo com empenas incaracterísticas.
Gosto do Palais Tokyo. Renovado mas mantendo a personalidade original do edifício, o novo uso reflete o pensamento duma sociedade culta e civilizada. A arquitectura não tem que ser cara para ter qualidade. Um museu não tem que restringir o acesso aos visitantes, não tem que impor regras e mais regras, como se a liberdade nos fosse temporariamente retirada. No Palais Tokyo posso levar o meu lanche, sentar-me no bar e conversar com os meus amigos. Posso jantar, ver ou comprar um objecto exclusivo, livros e tudo o que os museus de hoje têm. É bom quando se entende a mentalidade de alguém que imaginou certo espaço, ainda mais quando essa imaginação não previu exactamente tudo o que poderia acontecer.

 
BARCELONA por Paulo Moreira

Andar de metro faz-me lembrar cidade. E depois quando saio, caminho com o frio de Janeiro, atravesso um viaduto, ao lado há construções paradas, é noite.
Dentro de um quarteirão sujo ouço um som arrebatador, há tatuagens, piercings, repas, pins, cultura urbana.
Momentos antes, num quarto andar no Raval, num edifício velho, interior white washed, tenho a sensação que a fachada não é importante, ninguém vive na fachada. Vive-se na sala cheia ouvindo música, vendo fotografia, folheando livros e começando a conhecer gente que gosta desta coisa que são as cidades.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

 
BERLIN TOKYO PARIS PORTO por Luís Cadeco

3maisadesempre

empolgados a ouvir U2 no máximo, entramos de noite por um empilhado de auto-estradas com uma espécie de torre eiffel como cenário. não percebemos bem, é este o cartão de visitas? 5 minutos depois estamos perdidos, não importa. vagueámos pela cidade, bebemos cerveja e comemos dôners à procura de emoções no lugar que não encontramos. acordo num dia de primavera e tudo faz sentido. encontro-me com a cidade, modesta mas magnífica, densidade histórica, escala e dimensão. meia centena de concertos rock por semana, ópera, teatro cultura, culturas diferentes, confluem. consistente. ... torstrasse 70 - entramos, subimos até à cobertura para o último churrasco, uma torre no horizonte sempre presente. as memórias precipitam-se viagens de campo, floresta, nadar em lagos, sair à noite, festas, o som, inédito em primeira mão, no sítio certo.estamos de saída;
estou preparado. sabia o essencial: meias sem buracos e comer a fazer barulho. aprendo com o mestre evoluo a técnica, sou elogiado e reconhecido. os pauzinhos não têm segredos para mim, a vida é peculiarmente simples;
parto deste estranho mundo onde viviam em cápsulas. blocos de pedra empilhados, edifícios, quarteirões. culto do património. os carros estão sujos e amolgados. está tudo igual aqui em casa, falam com um sotaque diferente mas habituo-me, glamour e ostentação, bebo champagne, escuto tudo, demasiado;
viajo no tempo, revisto a cidade, música nova. de volta às festas do museu. esgoto o programa. ritmo frenético, intensidade, projecção e densidade dão lugar a outro universo, outro focar. compro candeeiros e tapetes, barquinho no clube e passeios de fim de semana.
penso em ti, sempre

sábado, janeiro 14, 2006

 
PRAGA por Paulo Moreira

Praga acabou por ter um papel na minha vida maior do que estava à espera, cidade estratégica nas incursões à Europa de Leste.
A primeira foi um choque. Saído da civilização educada e rigorosa, não esperava tanta pressão e agressividade nos comportamentos de toda a gente: os funcionários do turismo enganaram-nos, os funcionários do hotel enganaram-nos, a polícia multou-nos sem razão, os funcionários do metro procuravam turistas ingénuos, sei lá mais quem é que nos enganou.
Felizmente que pouco mais de um ano depois, já na fase de descompressão de meses intensos de trabalho, passei um fim-de-semana prolongado em Praga. Tudo bem, visitei a cidade turística e tirei fotografias aos cemitérios judeus mais impressionante que alguma vez vi, mas desta vez havia algo mais para conhecer, partilhava lugares com gente que vivia em Praga e já conhecia os seus percursos, era mesmo isso que queria.
Mal sabia que menos de um mês depois iria reincidir naquela vida: vindo de uma mítica pequena cidade alemã chamada Gelsenkirchen, dormido numa estação de serviço e acordado como campão europeu de clubes de futebol. Pelo caminho a matrícula do carro e os nossos cachecóis originavam acenos e apitadelas, sorrisos e congratulações. Chegámos a Praga à noite, a tempo duma festa Erasmus nas margens do rio.

Não deixa de ser curioso que de cada vez que me cruzo com Praga sinto necessidade de me afastar daquela diversão toda. É um fenómeno estranho, acabo sempre por voltar à terra das cervejas baratas e dos shots de absinto, nem que seja para ter a certeza que prefiro saír dali depressa.

 
ROMA por Paulo Moreira

A vantagem de se começar um inter-rail no centro da Europa é que na primeira paragem se está em Roma.
É Agosto, quero conhecer de novo a cidade e quem se move dentro dela.
Subimos para o comboio à chuva, em Basileia. Dias e dias de trabalho interrompiam-se finalmente, o destino era Sul.
Abrir a janela do comboio pela manhã causou-me um sorriso inevitável: o Sol brilhava, a paisagem também. Já tínhamos estadia marcada perto da estação, deixámos as mochilas e fomos ver as ruínas. Um dia inteiro a andar a pé, um calor abrasador, maravilhado por aqueles muros sólidos e intemporais.
A certa altura tínhamos que voltar para o hostel e descansar, dormir talvez e mais tarde pensar no que fazer. Mas ao entrar na camarata fomos convidados para um ‘pub crawl’ que começava dali a uma hora ou duas. Afinal não havia tempo para descansos, só tomar um banho e seguir.
Assim foi, uma acção intensiva desde o momento em que se junta o grupo, diverso nas proveniências mas homogéneo nos intuítos. Era Verão finalmente.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

 
AGRA por Manuela Silva

Noite Mágica em Agra.

Há dias em que recordando me pergunto se foi mesmo realidade ou se é um sonho, um desejo que quero pensar que se concretizou.
Afinal há momentos mágicos, que surgem inesperadamente, e nos ficam na memória para o resto da vida, pelo menos enquanto a nossa vida tiver memória.
Era o fim de Verão em Portugal, o fim da época das monções na India, e resolvemos ir numa "viagem organizada" à India Nepal e Tailândia. Decorria o ano de 1982 e esses países eram ainda muito longe, não havia tlm, nem telefones directos, nem terrorismo no Nepal, nem sacas plásticas nas lojas.


Estava programada uma ida a Agra, onde chegámos depois de uma viagem de autocarro a partir de Deli, cento e poucos quilómetros de estrada poeirenta, movimentada, com as bermas completamente cheias de pessoas em passo rápido .
Da chegada a Agra ficou-me a imagem de uma fila de prisioneiros "vestidos" com uma tanga, acorrentados uns aos outros, em fila indiana, acompanhados por polícias de ar triste, armados de espingardas. Essa imagem de chegada não me fazia prever o momento inesquecível que essa cidade me proporcionou.


Durante uma deslocação em riquechó (será assim que se escreve?), o "motorista", homem muito educado e prestável, perguntou-nos se queríamos que nos levasse a visitar o Taj Mahal à noite. Surpreedidos, por termos lido que o recinto fechava ao pôr-do-sol, perguntámos como era possível, ao que nos explicou que era noite de lua cheia, e por isso se podia visitar. Combinada a saída foi-nos buscar ao restaurante onde jantámos.

E assim começou a noite que mais lembranças me deixou. Percorremos ruas e ruelas estreitas, escuras, cheias de cheiros e sons de música de cítara, onde viamos moverem-se como em slow motion vultos de homens e mulheres que se preparavam para recolher.E de repente como por encanto desembocámos numa área aberta, extensa,escura, sobre a qual flutuava um edifício azul claro, imponente, leve e enorme. Sentia-se um silêncio intenso, embora se ouvisse o som de música de cítaras.

Essa imagem de um edifício de mármore branco, a reflectir o azul do luar foi a mais bonita imagem que até hoje disfrutei de alguma coisa construída pelo homem. E pensar que foi mandado construir como testemunho do amor de um homem pela mulher que morreu a dar à luz um filho, e que esse mesmo homem acabou os seus dias prisioneiro num forte, de onde podia ver todas as noites de lua cheia a mesma imagem que me proporcionou...
Há momentos mágicos!


Gostava que todos pudessem ir a Agra, numa noite de lua cheia.

domingo, janeiro 08, 2006

 
VARANASI por Maria Sottomayor

Uma cidade mais antiga que a propria historia - dizem eles.
O frio esta a chegar ao norte da India e quero agora mover-me para sul. Mas antes de ir a Mumbai grizar-me com as estrelas de Bollywood, vim a Varanasi uns dias....era incontornavel. Morrer em Varanasi é um desejo para maior parte dos hindus. A cidade sagrada onde passa o rio Ganges nao descansa nem um só minuto das celebracoes fúnebres. As mulheres que pertencem à família não estão autorizadas a ir até ao rio assistir a cremação, mas os turistas podem assistir desde que não tirem fotografias....será que se não fosse proibido, haveria algum japonês a tentar captar tal sagrado momento? Não me atrevo a dizer que não. Ironicamente, hoje esta cidade fez-me lembrar o Porto. Acordei às 6 da manhã para ir ver o nascer do sol e andar de barco. O rio poluído, um semi-nevoeiro, um barco de madeira, as casas de diferentes cores, sujas e antigas...E na água que tem tanto de sujidade para uns como de sagrado para outros, há gente a tomar banhos libertadores durante todo o dia e mulheres a lavar a roupa. Lençóis enormes de diferentes cores que depois se estendem a secar nas escadas junto ao rio. Escadas que chegam ate templos e assim sucessivamente por mais de 7 km de costa. Templos, gente, fogo, flores, lençóis, cores, escadas, vida, morte e deuses. Sempre muitos deuses.

Dizem que quem morre em Varanasi esta livre do ciclo das reecarnações e vai directo para o Nirvana. Há pessoas que quando envelhecem ou ficam doentes vêm morar para aqui quase como que para assegurar lugar no tal paraíso...O que será isto? O ambiente é difícil de descrever, mas muitos de vocês já devem ter uma vaga ideia do que isto é (Ernesto, eu sei que andaste a ver aqueles documentários da rtp 2)...No entanto, não tem nada de trágico ou dramático. Uma beleza um pouco mórbida, mas que se aguenta realtivamente bem. Quer dizer, nao sei se bem ou mal são boas maneiras para descrever a sensação. Noutro sítio talvez encontre as palavras certas. Uma maneira totalmente diferente de encarar o desconhecido...
(...)

http://www.maryconnections.blogspot.com

sábado, janeiro 07, 2006

 
HONG KONG por Paulo Moreira

Parece mentira esta cidade! Uma atitude cosmopolita, frenética, executivos, negócios e compras, kawloon, as pessoas usam all star e falam incessantemente com telemóveis de abrir, há muitos adereços, a decoração kitsch chegou ao corpo humano com sucesso!
As ruas servem para os carros, os passeios são outra história, elevada, entram nos edifícios e transformam-se em lojas, muitas lojas e muita gente, os semáforos marcam um ritmo veloz, de cada vez o verde traz mais mil pessoas a atravessar, não sei de onde vêm, pra onde vão, mas vou com eles, descobrir uma paisagem poderosa e só mais tarde pensar sobre o que aconteceu.

 
MUNIQUE por Paulo Moreira

Agora que penso nas coisas: o que me terá feito ir três vezes a Munique em menos de um ano? Em primeiro lugar a vantagem de ter vivido no centro da Europa. Dizer estas coisas agora parece um devaneio capitalista qualquer, mas na altura não pensava muito nisso.
Cada uma das três viagens teve a sua história, não sinto que tenha repetido muita coisa, mas mesmo que tivesse: qual seria o problema?
Fui duas vezes de carro e outra de comboio, sempre desde Basileia.
Na primeira ida fomos dois no Jeep, daquelas viagens em que se passa por Bregenz e se vê o Kunsthaus à noite. O engraçado disto tudo é que estávamos já na Alemanha quando um amigo me telefona a perguntar se eu tinha o número de nosso amigo que vivia em Munique, porque estava a caminho. Eu não só tinha esse número como também ia para lá, por isso dali a um bocado encontrávamo-nos.
Foi muito positivo esse encontro involuntário, dois que viviam em Basileia e dois que viviam em Milão e Mendrisio (mas vinham de Zurique), passarem por Munique por coincidência. Juntamente com o casalinho amigo residente, fomos saír e pôr a conversa em dia. Tenho esta recordação, todos no ‘The Garden Club’, de repente no meio de uma cidade qualquer, com todo o respeito por Munique.
Uma noite depois uns seguiram para Praga e outros dois ficaram mais um pouco. Visitámos umas coisas, claro, tivemos a oportunidade de visitar exclusivamente todo o estaleiro da Alianz Arena, outra vantagem de trabalhar onde trabalhava.
À noite encontrámo-nos com outro meu amigo alemão. Havia uma festa na casa de alguém. Penso que foi nessa noite que fomos ao ‘Registratur’, uma discoteca que me faz lembrar o ‘Razzmatazz’ de Barcelona. Uma fábrica antiga em tijolo, enorme, demasiado ocupada com a qualidade da música para perder tempo com maquilhagens.
Outras idas a Munique têm pontos em comum, o The Garden por exemplo, e especificidades únicas, como a Oktober Fest. É daquelas coisas que se tem que fazer nem que seja para não repetir, o que nem sequer é o caso. Mas sobre isso não vou falar, pode surgir por aqui a qualquer momento alguém que saiba mais sobre Munique do que eu.

 
LONDRES por Paulo Moreira

Nunca vou saber como poderia ter sido o dia em que não fui a Londres.
Ficaria hospedado em Hackney Downs num armazém transformado em casa ilegal por cima de uma sucata. Na rua haveria homens em volta de barris metálicos incandescentes, debaixo da linha de comboio.
A casa teria um carisma especial por não parecer uma casa. Um espaço de grandes dimensões apropriado por muitas coisas: muitas cassetes de video, muitos cd’s, muita roupa, muitos livros, cadeiras, muita coisa. Nos extremos deste espaço haveria divisórias que encerrariam três quartos pequenos, que aproveitariam a grande altura do espaço com uma mezzanine onde se poderia dormir. O espaço central teria uma janela em toda a extensão, ao nível da linha ferroviária. Pareceria que os comboios estariam dentro de casa, mas em silêncio, haveria uma música qualquer inovadora que esconderia esse barulho.
Na televisão poderia ter visto o Metropolis, numa tábua-de-passar-a-ferro transformada em mesa estaria um mac, obras de arte recicladas e papéis com agendas de concertos.

Nunca vou saber como poderia ter sido o dia em que não fui a Londres.
Iria com certeza à livraria do RIBA, compraria um livro de fotografias sobre os territórios ocupados da Palestina e outro sobre o espaço público incerto de Berlim. Iria a Camden Town comprar um casaco em segunda mão, uns pins para dependurar nos bolsos das calças e um cd de música electrónica alemã.
Depois regressaria a casa, East London, pela janela do comboio veria fábricas com ar abandonado e torres lá ao fundo.
À noite iria por exemplo a uma festa seventies onde o próprio espaço cheiraria a naftalina, toda a gente se deverteria muito com aquelas roupas. Poderia em vez disso ir até West London ao ‘Notting Hill Arts Caffé’, onde conheceria gente de todo o mundo que me perguntaria desde quando é que estava em Londres. Ou então iria ao The End, à festa ‘Trash’ das Segundas-Feiras, as pessoas usariam gravatas pequenas por cima de t-shirts e a música oscilaria entre techno e revivalismos dos anos oitenta.

Nunca vou saber como poderia ter sido o dia em que não fui a Londres. Iria a Satchi Gallery ver uma exposição espectacular qualquer, passaria pela Serpentine Gallery para ver o pavilhão provisório Siza & Souto Moura, e depois iria à Tate Modern ver objectos e projectos em que participara. A exposição ocuparia a grande sala das turbinas, haveria mesas dispostas no espaço aleatoriamente, cada uma mostraria projectos em várias cidades, Nova Iorque, Tokio, Pequim, Barcelona, Hamburgo, San Francisco. Seria uma experiência única, ver num museu de arte contemporênea tão importante como a Tate Modern maquetes em madeira, cartão, gesso e protótipos de tijolo que produzira em Basileia alguns meses antes. Na livraria folhearia um livro das ‘Chicks on Speed’ organizado como uma casa com vários pisos e várias divisões, gostaria de comprá-lo mas talvez fosse demasiado caro.

No dia em que poderia ter ido a Londres não fui por isso não fiz nada disto. A 7-7-2005 explodiram algumas bombas na cidade e não havia transportes, passaram-se uns dias caóticos. O meu voo não foi cancelado mas resolvi não ir. O shuttle de Stansted para Liverpool Street não funcionava, o metro não me levava à Tate, o comboio não passava em frente à casa de Hackney Downs, como se estivesse lá dentro. Algumas pessoas telefonaram-me para saber se estava bem mas eu não tinha ido, por isso estava bem. Em vez da festa seventies fui ao Churrasco na FAUP, em vez do ‘Arts Caffé’ fui à festa no ‘Bairro Inez’, também havia gente de todo o mundo, a exposição já tinha visto em Basileia,
não ia ficar muito tempo a pensar no que não tinha feito em Londres.

 
LUZERN por Emanuel Sousa

Luzern, diz-se, ser muito mais bonita no verão quando a envolvente se torna verdejante, mas com neve em volta, nãoperde o charme, pelo menos para nós, latinos, menos habituados a estas andanças do branco manto de neve...

o fim de semana começou na sexta, logo de manhazinha, com um pequeno passeio pelo casco velho da cidade seguido de um pequeno cruzeiro-almoço, no lago de Luzern, que apesar de repleto de nevoeiro, envolveu-se numa aura mágica, digna dos contos fantásticos...
depois de um pequeno impulso consumista, próprio de quem vive entre shoppings, fomos vistar um deles nos arredores da cidade, pequeno e desinteressante comparado com os nossos, que logo se abandonou, para retornar à cidade, visitar as suas pontes cobertas, algumas das suas praças e deambular pela suas ruelas, saboriando o quente das castanhas de rua...
a noite acabou com um jantar no Einhorn, um restaurante de comida italiana bem no centro, com muitos empregados portugueses...
aliás a cidade está repleta deles, de madeirenses a açorianos, passando por terras bem mais proximas daqui, como marco de canaveses, a cada esquina se encontra um 'tuga', no melhor sentido da palavra, que logo se entrega ao portugues para nos dar conselhos, sugestões, falar de portugal e da suiça...

No sábado, fizemos o circuito turistico, apanhamos um autocarro até Lide para aí apanahar um teleférico que nos levaria a Pilatos, a montanha mais alta em redor. O percurso, até ao teleférico, feito a pé, por muitas razões fazia lembrar, a atmosfera, da série Heidi, que encheu grande parte das nossa infâncias. E a subida no teleférico, apenas confirmou a verosimelhança da paisagem real com a ficção. Deveras mágicas aquelas cabanas perdidas na montanha, coberta de branco...

Apesar de termos chegado ao cume rapidamente, a paisagem muda drasticamente, do verde ao branco, do frio ao gelo, da paisagem domesticado à paisagem mais agreste e virgem... a força da antureza encontra-se lá, livre, como os flocos de neve que esvoaçam à nossa volta... Foi lindo...
Em cinco minutos, a paisagem que se estendia por kilómetros envolveu-se numa névoa inerte, que fechou a paisagem, sobre si mesma, num manto branco sem profuindidade que nos rodeava... A paisagem continuava lá, mas coberta com um fino véu de neve... Acabamos a comer Fondue de queijo, no La Taverne, no topo da montanha, ora vendo a paisagem ora sentido que nos encontravamos dentro de uma nuvem...

Ao início da tarde, já estavamos de volta à cidade, a viagem de teleférico tinha sido algo vertiginosa, com a penetração desse véu, que assim abria a paisagem em toda a sua magnificiência, e altura, como se saltassemos dessa nuvem para o mundo lá em baixo...
Anoiteceu enquanto se deambulva pela cidade, pelas feiras tradicionais que agora abundavam pela cidade, provavelmente pela proximidade com a chegada de São Nicolau, que chega dia 6 de Dezembro, com as prendas de natal... Pequenas preciosidades feitas à mão, misturadas com bugigangas de metal, que se amontova nas pequenas praças. As pessoas em volta do bar improvisado, aqueciam-se com o vinho quente, que logo experimentamos...
Acabamos por nos sentar na margem do rio, fazendo um magusto tardio, castanhas e vinho quente, enquanto cisnes e pequenas aves de rapina, atabalhoadamente, se posicionavam à nossa volta, na esperança de conseguir repasto para a noite...
A noite caia e acabamos no JazzKantine, um pequeno bar cheio de gente, onde passamos algumas horas conversando, e tentando ler as revistas encriptadas em alemão, acompanhados pelo reconfortante chá quente...O jantar foi fora da cidade, num pequeno restaurante de charme, o Maihofli, com comida excepcional, um gosto tradicional e muito caseiro, com um toque de 'nouvelle cuisine', acompanhado pelo vinho francês suave. A noite acabou no lowengraben, um post-chic lounge, bar do momento em Luzern.

Domingo foi o dia da despedida da cidade, com um passeio a pé em volta da muralha, com as suas oito torres, semelhantes às torres que circundam Hogwarts, em 'Harry Potter', o dia estava claro e azul... as cores de outono ainda perduravam, apesar do frio... A visita logo pela manhã, ao 'Dying Lion of Luzern', culminava a despedida com o seu ar triste...
Saímos de Luzern pelas duas da tarde, com a ideia de visitar a zona ribeirinha de Zurich... Não sem antes experimentar, e despedirmo-nos à boa maneira germânica, com uma boa salsicha, 'wurtz'... Delicioso, provavelmente da fome, mas sem dúvida, memorável.

Zurich, ficaria para a próxima, a chuva levou-nos directamente ao aeroporto, onde ficamos a restante tarde, demabulando pelo 'Duty Free', nele próprio uma experiência do primeiro mundo e da ordem suiça....

terça-feira, janeiro 03, 2006

 
LJUBLIANA por Paulo Moreira

Já alguma vez vos aconteceu ir a um sítio qualquer e gostar tanto que resolveram não voltar? A mim já. Os quase dois meses que passei no Brasil... e uma noite em que estive em Ljubliana. O destino era Veneza, jantámos em Zagreb, a Eslovénia ficava a caminho. Era Sábado de Carnaval e ainda não sabíamos que íamos passar lá a noite, mas teve que ser. Dormimos no carro e no dia seguinte seguimos viagem. Entretanto nem sei explicar muito bem o que aconteceu, de repente toda a gente estava mascarada, menos nós, não esperávamos tal recepção. Muitos bares e amizades espontâneas, e tal como roubei uma pedra da Acrópole de Atenas, também trouxe uma caneca de meio litro de Ljubliana. Não é que me fosse esquecer daquela cidade, mas pelo menos tinha algum objecto por perto. Curiosamente um ano e meio depois uma das três testemunhas de Ljubliana partiu a tal caneca em Karlsruhe, sem querer. Enfim, manias que com o tempo espero ultrapassar. Por falar nisso, pressinto que não falta assim tanto tempo para voltar ao Brasil.

 
MADRID por Paulo Moreira

Há uns tempos que não fazia isto: viagens insólitas.

Decidir com conciencia e partir uns instantes depois.
Evidentemente que num período tão curto como trinta horas não é possível descrever toda uma cidade, mas há uma impressão que fica:mesmo se mais tarde mudar de opinião, a primeira impressão não se altera. E Madrid, espontaneamente, pareceu-me uma cidade regular, normal.
Gostei especialmente de ter percorrido as ruas e avenidas de carro, é coisa que nem sempre tem sido possível fazer, observar os edifícios a passar, o trânsito desordenado, antipático, conversar sobre o que víamos através do vidro, por exemplo.
A extensão da Castelhana permite uma conversa prolongada. Há enfeites de Natal, há torres envidraçadas, um centro financeiro típico de uma capital. No final, dois edifícios inclinados provocam algum espanto e vontade de repetir o percurso.
À noite há muita gente e animação mas o ambiente geral não me motiva particularmente. Felizmente há bares como o La Ida que me fazem recordar outras paragens.
Senti-me bem em Madrid devido à situação – ser algo novo, intenso e curto, catorze horas em auto-carros para passar uma noite e um dia com gente que viaja e diverte-se com isso, não pertenço a Madrid mas agradou-me respirar aquele ar.

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