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segunda-feira, janeiro 09, 2006

 
AGRA por Manuela Silva

Noite Mágica em Agra.

Há dias em que recordando me pergunto se foi mesmo realidade ou se é um sonho, um desejo que quero pensar que se concretizou.
Afinal há momentos mágicos, que surgem inesperadamente, e nos ficam na memória para o resto da vida, pelo menos enquanto a nossa vida tiver memória.
Era o fim de Verão em Portugal, o fim da época das monções na India, e resolvemos ir numa "viagem organizada" à India Nepal e Tailândia. Decorria o ano de 1982 e esses países eram ainda muito longe, não havia tlm, nem telefones directos, nem terrorismo no Nepal, nem sacas plásticas nas lojas.


Estava programada uma ida a Agra, onde chegámos depois de uma viagem de autocarro a partir de Deli, cento e poucos quilómetros de estrada poeirenta, movimentada, com as bermas completamente cheias de pessoas em passo rápido .
Da chegada a Agra ficou-me a imagem de uma fila de prisioneiros "vestidos" com uma tanga, acorrentados uns aos outros, em fila indiana, acompanhados por polícias de ar triste, armados de espingardas. Essa imagem de chegada não me fazia prever o momento inesquecível que essa cidade me proporcionou.


Durante uma deslocação em riquechó (será assim que se escreve?), o "motorista", homem muito educado e prestável, perguntou-nos se queríamos que nos levasse a visitar o Taj Mahal à noite. Surpreedidos, por termos lido que o recinto fechava ao pôr-do-sol, perguntámos como era possível, ao que nos explicou que era noite de lua cheia, e por isso se podia visitar. Combinada a saída foi-nos buscar ao restaurante onde jantámos.

E assim começou a noite que mais lembranças me deixou. Percorremos ruas e ruelas estreitas, escuras, cheias de cheiros e sons de música de cítara, onde viamos moverem-se como em slow motion vultos de homens e mulheres que se preparavam para recolher.E de repente como por encanto desembocámos numa área aberta, extensa,escura, sobre a qual flutuava um edifício azul claro, imponente, leve e enorme. Sentia-se um silêncio intenso, embora se ouvisse o som de música de cítaras.

Essa imagem de um edifício de mármore branco, a reflectir o azul do luar foi a mais bonita imagem que até hoje disfrutei de alguma coisa construída pelo homem. E pensar que foi mandado construir como testemunho do amor de um homem pela mulher que morreu a dar à luz um filho, e que esse mesmo homem acabou os seus dias prisioneiro num forte, de onde podia ver todas as noites de lua cheia a mesma imagem que me proporcionou...
Há momentos mágicos!


Gostava que todos pudessem ir a Agra, numa noite de lua cheia.





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