city-scape

quinta-feira, março 02, 2006

 
BERLIM por Diogo Matos

acordei. olho para o relógio. o único objectivo que me movia hoje foi falhado. a mensa vai fechar dentro de 10 minutos. nao importa. preparo-me, saio de casa depressa. acabei de chegar de munique onde passei o natal, a casa ainda nao teve tempo de aquecer e por isso a temperatura invernal ambiente ainda se sente integralmente dentro do meu quarto.
vou dar uma volta de metro, de livro no bolso. cruzo a cidade. leio. passou uma hora e meia, continuo sem saber o que fazer, nao combinei nada com ninguem, nao me apeteceu. gosto de estar sozinho. nunca tinha estado sozinho antes de vir viver para berlim. um ano sem objectivos, um ano sem horários. mais tarde vou descobrir que não gosto de não ter objectivos ou horários, mas pelo menos por enquanto sabe-me extremamente bem. o dia concede-me mais duas horas de luz, resolvo aproveita-las. vou dar uma volta por Prenzlauer Berg, sentar-me num café beber algo quente.
o meu primeiro contacto adulto e autónomo com berlim aconteceu há três meses. não foi uma cidade fácil de decifrar, assustou-me. nunca tinha esperado uma cidade tão áspera, tão estranha. guiei pela cidade seguindo as orientações do luis, munido de mapa. procurávamos uma casa, tarefa dificil. tudo parecia desadequado, por incrivel que pareça acabamos por escolher a mais desadequada de todas. no entanto, adoro-a. a sua localização é simplesmente surreal, longe de qq tipo de referencia que possa indicar. quando a visitamos deixei-me seduzir pela luz que inundava aquele que viria ser o meu quarto através das duas janelas verticais enormes. a casa é caricata. o duche é na cozinha, ou melhor num cubiculozinho dentro da cozinha. a água quente controla-se do lado oposto ao sítio onde se toma banho. a senhoria é um tipo de pessoa que seria muito dificil de conhecer no porto. com 65 anos de idade fala um inglês perfeito, doutorada em botânica provavelmente cultiva erva no quintal atrás de nossa casa.

-"berlim não tem charme" - reajo com indiferença. passou um ano desde que deixei berlim, vivo numa cidade que suponho eu, deverá ter charme, se me apetecer mijar contra uma parede provavelmente sou preso e deportado. os carros so podem estar estacionados nos lugares brancos, os azuis sao para moradores, os amarelos so durante a noite. a cidade é limpa. estou farto de charme, este ambiente esterilizado irrita-me. quero poder berrar em casa sem ter a policia 10 minutos depois à porta. quero festas em caves onde me sinto claustrofóbico e tenho de baixar a cabeça para passar nas portas. quero ver grafitis. quero avenidas gigantes. quero sujidade, fumo, pedintes, metro, alcoolicos. sei q nunca deixei berlim.





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