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sábado, março 18, 2006

 
ESMERALDAS

A CIDADE MAIS FEIA DO MUNDO

De férias no Equador! Um sonho de criança revelou-se realidade. Afinal eram reais as fotografias da National Geographic, vistas e revistas vezes sem conta. Ou seriam as recordações das aventuras do tin-tin?Não interessa, o importante é que ali estava eu, naquele país inacessível com floresta amazónica, montanhas intransponiveis com vulcões cobertos de neve como nos desenhos animados, com ilhas povoadas por seres estranhos e felizes (iguanas, tartarugas,pinguins,todos em feliz harmonia como se estivessem ainda no jurássico).

E como corolário , para retemperar as energias gastas em tanta novidade e tanta emoção, uns dias numa praia quase deserta, próxima de uma aldeia de descendentes de escravos fugidos aos espanhois,refugiados na costa do pacífico, onde conseguiram sobreviver dedicando-se à pesca.

Mas tanta natureza também cansa, e a tentação de visitar uma cidade desconhecida, a poucas centenas de Km foi aumentando, enquanto a tosta ao sol aguçava a curiosidade, e a imaginação arranjava motivos dignos das aventuras lidas no Cavaleiro Andante para justificar aquele nome tão apelativo: "ESMERALDAS"!

Seria o local de um tesouro escondido?, haveria minas de esmeraldas que só alguns iniciados conhecessem e se tivessem esquecido de revelar?

E assim, o apelo do nome, e a vontade de conhecer a cidade ,sobrepuseram-se ao prazer de emitar as iguanas ao sol e os lobos marinhos na água.

Aproveitando a boleia na caixa aberta de uma camionete igual à da série americana Viver no Campo, conduzida por um galego que se perdeu e foi dar àquela costa, lá partimos entusiasmados com a perspectiva de conhecer Esmeraldas.

E foi uma emoção indescritível. E espero que seja também irrepetível.

É que Esmeralda foi nesse dia classificada como a cidade mais feia do mundo. Não pode haver pior. Nem mais feia, nem mais desordenada, nem mais porca, nem mais inóspita, nem mais desorganizada, nem mais perigosa, nem mais nada.

É o prinicipal porto exportador de petróleo do Equador,está rodeada de refinarias, e os contrafortes dos Andes que a ladeiam a leste foram completamente desflorestados para plantar bananeiras. Há Km e Km de terra cobertos pelas sacas azuis de plástico que utilizam para cobrir os cachos de bananas antes de os cortarem.

A entrada da cidade é anunciada por dezenas, isto é, centenas de abutres que fazem voo razante sobre os visitantes enquanto se aproximam da lixeira a céu aberto que ocupa centenas de metros da berma da estrada e que em algumas partes a invade. E ao levantarem voo voltam a saudar-nos de perto, mas aí já com o bico e/ou as patas ocupadas com restos de animais que os açougues aí depejam (tripas, peles, eu sei lá mais o quê).

O cheiro nauseabundo é ampliado pelo calor dos trópicos, e tudo isto apreciado de uma caixa aberta de uma camioneta ridícula e a ameaçar desfazer-se nas curvas, e a tentar em vão desviar-se dos buracos, tem outro impacto!

Entrando no perímetro urbano, a orientação é difícil, nem dá para entender para que lado é o porto, o centro, ou o mercado.

Só mesmo o Galego de que já esqueci o nome nos podia orientar, já que é lá que se abastece para o restaurante que tem na praia, mas o homem não foi de guia turístico, só nos fez o favor de nos dar boleia. E tinha mais que fazer, comprar camarão descascado, peixe fresco e fruta.

Bem que nos avisou, bem que achava estranho querermos ir a Esmeraldas.

Desapeados da camioneta, lá fomos perguntando aos autóctones, que tão admirados estavam de ver estranhos a querer visitar Esmeraldas, que até se esqueciam da pergunta, isto é, de nos dar resposta à primeira, mas lá fomos sabendo que o mercado é muito perigoso para estrangeiros.

O porto é inacessível. O centro não é identificável.

O transito é caótico. Os passeios quando existem estão a 50 cm do pavimento das ruas, que está esburacado

O comércio era o equivalente ao refugo , ou melhor ao saco do lixo dos armazéns chineses da zona industrial de Vila do Conde.

Depois de bebermos qualquer coisa num restaurante que era também o posto do correio, lá nos encontramos com o nosso motorista, e encetámos a viagem de regresso, partilhando a caixa aberta com os víveres. Foi a sorte dele, porque os defendemos com toda a nossa força e argúcia dos abutres que nos esperavam à saída da cidade.

E nessa noita, revendo a experiência no areal morno de Muisne, elegemos Esmeraldas como a cidade mais feia do mundo.

Manuela





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