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quarta-feira, março 01, 2006

 
LA CHAUX-DE-FONDS por Paulo Moreira

Três anos antes tinha escolhido as primeiras casas de Charles-Edouard Jeanneret para estudar na disciplina Métodos e Linguagens da Arquitectura Contemporânea, na FAUP. Interessou-me o ponto de partida, queria saber mais sobre como tudo tinha começado, ia ter muito tempo para perceber aquilo que viria a seguir. Charles-Edouard nasceu em La Chaux-de-Fonds, uma pequena cidade no vale do Jura, fronteira entre Suiça e França. Partiu para Paris aos trinta e um anos, e aí nasceu ‘Le Corbusier’. Aquilo que me interesava era saber quais as suas raízes, pois nao acreditava nas críticas supérfluas que consideravam essas casas ‘horríveis’, que ‘nao tinham nada a ver’. Custa-me acreditar porque acho que o que fiz até agora e o que vou fazer até aos trinta e um anos vai servir para alguma coisa, espero eu. Quando finalmente a ocasiao se proporcionou, chegava à Suiça pela parte francesa e propus essa visita aos ‘chalets’ da colina La Pourriel.
Por ordem cronológica, as casas vao aparecendo num caminho tortuoso. A primeira foi construída quando Charles-Edouard tinha dezoito anos, seguindo-se outras duas para familiares e amigos próximos, e finalmente a casa Jeanneret-Perret, projectada e construída depois da viagem à Grécia. Este facto é importante porque a técnica construtiva, as soluçoes formais, o branco, a implantaçao e o percurso talvez se refiram à Acrópole.
Seguidamente Charles-Edouard desceu a colina. A cidade é um caso de estudo urbanístico, trata-se de uma grelha ortogonal que forma quarteiroes estreitos e compridos. O plano deveu-se a um incêndio que destruiu grande parte da cidade (tal como noutros casos o progresso urbanístico decorreu de uma desgraça). Charles-Edouard construiu um cinema que já pouco tem de original e a Villa Schwob, mais conhecida em La Chaux como ‘Ville Turque’. Turca porque Charles-Edouard viajara à Turquia e trouxera algo daquela cultura. Passados cerca de dois meses da primeira visita, voltei a La Chaux-de-Fonds. A intençao era procurar um terreno para o projecto académico, uma vez que a escolha era livre. Acabei por nao fazer o projecto nesta cidade, por motivos que nao têm a ver com este texto. Mas esses dois dias sozinho em La Chaux-de-Fonds tiveram o seu encanto. A Vila Turca pertence a uma conhecida marca de relógios (a indústria forte da regiao), que uma vez por mês abre as suas portas ao público. Por sorte esse único Sábado mensal era o dia em que cheguei. Como chovia lá fora, fiquei várias horas dentro da casa, em cada espaço, na sala com pé direito duplo, nos quartos com passagens escondidas, na cave onde se mostra um filme sobre Le Corbusier. Foi uma tarde especial.
A terceira visita ocorreu cerca de um ano depois, sabe sempre bem repetir aquele caminho como um peregrino percorrendo as capelinhas.
Nao voltei a La Chaux-de-Fonds mas muitas vezes me lembrei daquelas casas quando visitava Ronchamp ou La Tourrette. Parece-me que, mesmo inconscientemente, as raízes suiças de Le Corbusier para sempre o acompanharam. Numa dessas visitas o meu professor falou das centenas de quilómetros que fez quando Le Corbusier morreu, só para se despedir do seu corpo. Este tipo de discursos ficam na memória. Fica também o trajecto que o jovem Charles-Edouard percorreu, que fez do seu próprio percurso um itenerário que muitos vao continuar a seguir.





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