city-scape

terça-feira, março 28, 2006

 
SARAJEVO
agosto 2003:
Cheguei a Sarajevo vindo de DubrovniK na Croácia, depois de falhado o objectivo Sérvia, por que nao seguir até Budapeste via Sarajevo? Após uma noite em Ploche (surreal, mas para um outro relato) eis que chego à velha capital. É dificil descrever o q se sentia por lá. Mal pisamos o cais de (des)embarque vimos um governante qualquer entrar para um comboio, nao teríamos reparado nisso n fosse o exército de guarda-costas que o rodeavam nao faltando ao cenário as metrelhadoras e as espingardas. Confesso que me interroguei se já teria acabado a guerra! uma estaçao desolada, uma arquitectura semelhante ao mercado municipal do Bom Sucesso, no Porto. Necessitava de restauro, éramos no maximo 20 pessoas debaixo daquela nave imensa, nós e um mural gigante pintado de fresco com um anúncio da coca-cola! Acreditem era melhor a visao do reboco velho descascado. Senti-me estranho ao ver aquele exemplo de publicidade pura e dura numa cidade onde há tanto mais para fazer. Sem mochila às costas havia que aproveitar o único dia em que iria estar na cidade. No posto de turismo jaziam posters ‘vintage’ nas vitrinas, alusivos ao comboio rápido (1980) ou aos jogos olímpicos de inverno (1984). Nao foram escolhidos por nenhuma opçao retro, a sua permanencia justificava-se com o ‘esquecimento’? nao sei... mas acreditem, para esta gente o tempo parou. Nao vi pontes, arquitectura de autor ou atracçoes de turismo local. Vi tristeza na rua, edifícios com buracos, sinaléticas a proibir a entrada de armas em cafés e Sinagogas!
Os capacetes azuis passeavam pela rua. Eram eles e o contra poder, gangs de jovens em atitude de provocaçao que surgiam de ruas menos centrais. Multibancos - encontrei um, com fila onde se falava tudo menos os dialectos dos Balcas. Afinal até ficava ao lado do edifício onde se situavam os escritórios internacionais e os departamentos locais das Naçoes Unidas, por momentos senti-me num bairro comum a tantos outros da europa do leste. O dia foi passando, apercebi-me que aquele cenário de tranquilidade descrito anteriormente era uma excepçao, ao vaguear pelas ruas bonitas e violadas só me vinham à cabeça imagens das cidades invisíveis de Italo Calvino. Confesso que saí de lá perturbado, se calhar pela visita à mesquita onde falámos com o ‘sacristao lá do sítio’ que desabafou durante largos momentos. Aquele povo tem sede e fome de tudo, a guerra congelou-os em todos os sentidos, no tempo e modo de pensar, sao pessoas frias, tristes, mas acreditam em algo... naquele dia em que tudo irá passar. Nao sei se terei vontade de lá voltar, tenho receio de encontrar uma Sarajevo capitalista, semelhante a outras capitais Europaístas. ...Gostava sim de poder ter conhecido Sarajevo em 84, na magia das Olimpíadas, e poder viver a magia com que aquele povo sonha quando vai dormir...
Tiago Oliveira, março 2006





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